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quarta-feira, 23 de abril de 2014

Nobel da Paz: Dom Paulo Arns me salvou duas vezes da ditadura brasileira



O ativista de direitos humanos argentino Adolfo Perez Esquivel, de 82 anos, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980, disse que foi "salvo duas vezes" por dom Paulo Evaristo Arns durante a ditadura no Brasil.


Em entrevista à BBC Brasil em Buenos Aires, Esquivel disse que foi preso na primeira vez por militares em São Paulo em 1975, e na segunda vez em 1981.


"Em 1975, foi muito difícil, porque eles colocaram um capuz na minha cabeça, uma gravação de gritos de pessoas sendo torturadas e levantavam um pouco o capuz somente para que eu pudesse identificar latino-americanos que eles perseguiam."
Segundo ele, os militares queriam que ele "denunciasse" outros opositores ao regime no Brasil. "Eu disse que não conhecia ninguém”.
Perez Esquivel afirmou ainda que três militares o interrogaram e não pode ver seus rostos. "Eram três interrogadores – um muito duro que dizia que iam me matar, que iam me torturar, outro que dizia que era conveniente que eu falasse e outro que queria se fazer de meu amigo, que estava ali para me ajudar", afirmou.
No dia seguinte à prisão, o então arcebispo de São Paulo dom Paulo Evaristo Arns, conseguiu tirá-lo do local. "O cardeal me salvou duas vezes", disse o Prêmio Nobel durante a entrevista realizada na sede da ONG Serviço Paz e Justiça (Serpaj) que dirige na Argentina.
Segundo Esquivel, Arns reuniu outros religiosos e defensores de direitos humanos e organizou uma manifestação na porta da delegacia, que não recordou onde ficava, assim que soube da sua detenção.
"Dom Paulo, certamente, falou com autoridades do Brasil para que eu fosse liberado. Mas não sei as gestões exatas que ele fez. O que sei é que ele não perdeu tempo em organizar uma manifestação na porta da delegacia para me salvar. E me salvou", disse.

Medo
Quando perguntado se tinha sentido medo de morrer na prisão durante a ditadura no Brasil,
ele respondeu: "Daquela vez sim, foi mesmo preocupante".
Ele contou que foi preso no aeroporto em São Paulo, e que estava com o advogado Mario Carvalho de Jesus, da Frente Nacional do Trabalho, e com a austríaca Hildegard Goss-Mayr, atual presidente honorária do Movimento Internacional de Reconciliação e integrante do Serpaj, que mora em Viena.
"Nós três tínhamos viajado para um encontro com dom Paulo, mas fomos presos antes. Depois sim, nos encontramos com ele, porque ele atuou para me liberar", afirmou.
O Prêmio Nobel recordou que sua prisão ocorreu no mesmo ano em que dom Paulo condenou a prisão e morte do jornalista Wladimir Herzog, assassinado no DOI-CODI, em São Paulo. "Dom Paulo convocou os religiosos contra a morte de Herzog que depois se soube foi mesmo assassinado".

Dom Paulo Evaristo Arns (AP)
Cardeal brasileiro lutou pelo direito de presos políticos durante o regime militar Esquivel foi preso em outras ocasiões no Equador e na Argentina, onde foi torturado, como recordou. "Eu sou um sobrevivente dessas tragédias que vivemos na América Latina".
Anos mais tarde, em 1981, ele foi preso após criticar a anistia no Brasil. "Eu falei na OAB do Rio de Janeiro e foram atrás de mim no aeroporto. Mas eu tinha mudado de voo para viajar com Leonardo Boff para São Paulo. Ainda assim me pegaram", disse.
Em São Paulo, quando chegava para dar uma palestra no colégio Sion, contou, onde realizaria um discurso com outros religiosos, incluindo dom Paulo Evaristo Arns, ele foi preso novamente.
"Me levaram para uma delegacia e dom Paulo reuniu várias pessoas em um protesto no local e graças a isso e a ele, novamente, me liberaram", disse.

Visita na prisão
Segundo Perez Esquivel, o então senador (Jarbas) Passarinho teria lhe visitado na prisão. "O senador Passarinho justificou porque a anistia era importante, dizendo que sem ela não seria possível construir uma democracia. E que as Forças Armadas tinham colocado ordem no caos. Discurso que achei típico de ditadores", afirmou.
E continuou: "Por esse motivo, dom Paulo costumava dizer que a democracia no Brasil só deixava passar um passarinho."
Na OAB, recordou, ele afirmou que "as Forças Armadas não podiam ser anistiadas pelos crimes da ditadura".
Na ocasião, ele já era Prêmio Nobel da Paz, que recebeu em 1980 pela defesa dos direitos humanos na América Latina. "A minha segunda prisão no Brasil foi quase uma questão diplomática", disse.
Ele considera "importante" a realização de comissões da verdade no Brasil e da integração entre os países da região na busca de informações sobre o que aconteceu no período ditatorial.
Em janeiro, Brasil, Argentina e Uruguai assinaram um acordo, no âmbito da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), para compartilhar documentos sobre as ditaduras nos três países.
Esquivel ressalvou, porém, que acha que as operações conjuntas contra opositores não se limitaram aos países do Cone Sul, onde a chamada ‘operação Condor’ significou ações conjuntas dos governos na busca dos que se opunham ao regime militar e foram entregues aos outros países ou mesmo torturados nos países vizinhos.
"Eu não chamo de ‘operação Condor’, eu digo que era a internacional do terror." Segundo ele, essa operação era "um monstro com muitos tentáculos".
Ele citou alguns casos de autoridades latino-americanas mortas em outros países, como o ex-ministro da Defesa do governo do presidente socialista Salvador Allende, do Chile, Orlando Letelier, morto com uma bomba colocada em seu carro em Washington por agentes da polícia do regime de Augusto Pinochet.
Ele afirmou ainda que a prisão, em 1976, com outros dezessete bispos latino-americanos e quatro americanos, no Equador, também "fazia parte da operação Condor".
"De jeito nenhum a operação se limitou ao Cone Sul", reiterou.

Verdade
Na sua opinião, a Argentina está à frente do Brasil na investigação sobre os crimes da ditadura porque no governo do ex-presidente Raul Alfonsín, na redemocratização, a partir de 1983, os militares foram levados a julgamento.
Anos mais tarde, os governos de Alfonsín e de seu sucessor Carlos Menem, lançaram as leis de Obediência Devida e Ponto Final, definidas como anistia. As leis foram derrubadas no governo do ex-presidente Nestor Kirchner, que governou entre 2003 e 2007 e morreu em 2010.
"Talvez, a Argentina, do ponto de vista jurídico, tenha sido o país que mais avançou (nesta questão)." Perez Esquivel defendeu que os crimes da ditadura sejam investigados para que "todas as gerações saibam o que aconteceu".
"Algo importante que o brasileiro deve ter é a busca da memória. Não é apenas buscar o passado. A memória deve iluminar o presente e ser base para as gerações futuras", disse.
Ele afirmou que a anistia "significa impunidade" e "impede a construção da democracia". "No Brasil lamentavelmente até agora impera a impunidade, com essa lei de anistia", disse.
Ele complementa que "para o direito internacional os crimes de lesa-humanidade jamais prescrevem". "Esperamos que eles não aconteçam nunca mais. Mas também por isso é importante saber o que aconteceu no Brasil e em toda a região, em todo o mundo", disse.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias/2014/04/140415_cardenapaulo_arns_salvo_perez_esquivel_mxa.shtml  


sexta-feira, 18 de abril de 2014

SERPAJ-Brasil Realiza Assembleia Geral Extraordinária para Eleger Nova Coordenação Nacional


O SERPAJ-Brasil realizará no próximo dia 05 de maio Assembleia Geral Extraordinária para eleição da nova Coordenação Nacional e finalmente efetivar a mudança da Sede Nacional para a cidade de Mandirituba, na Grande Curitiba, Capital do Estado do Paraná.
Esta assembleia legalizará uma situação que de fato já ocorre, pois desde outubro de 2009 os trabalhos da entidade estão sendo coordenados a partir Mandiritua.

A seguir vai a íntegra do Edital de convocação que além de publicado aqui, o que por si garante o mais amplo conhecimento de todos os interessados, será afixado no quadro de avisos na sede da entidade conforme mandam os nossos Estatutos.



EDITAL DE CONVOCAÇÃO
A Coordenação Nacional do SERPAJ-Brasil, CNPJ. 49.474.182/0001-21, no uso das prerrogativas que lhe conferem os Estatutos sociais da instituição, na forma do art. 11.g combinado com o art. 18.a, e ainda art. 19 Parágrafo Único, CONVOCA os delegados do Conselho Deliberativo Nacional para em Assembleia Geral Extraordinária que se realizará no dia 05 de maio de 2014, às 10h00min em primeira convocação, e 30 minutos após em segunda convocação no auditório da sede do Movimento Terra de Deus, Terra de Todos, à rua Calídice, 187, no Parque Madalena – Bairro de Ermelino Matarazzo – Capital do Estado de São Paulo, para discutir e deliberar sobre a seguinte pauta:

1 -  Análise das contas e da atuação da Coordenação Nacional cujo mandato se finda;

2 - Prorrogação do mandato da Coordenação para cobrir eventual período vacante;

3 - Eleição e posse dos coordenadores para recompor a Coordenação Nacional.

4 - Discussão e deliberação sobre a mudança da Sede Nacional da Entidade para a cidade de Mandirituba- PR;

5 - Informes Gerais e Assuntos diversos.

 Ferraz de Vasconcelos, 18 de abril de 2014
A Coordenação Nacional
Rosalvo Salgueiro Silva
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Na ONU: Pela Paz no Oriente Médio e Solidariedade  com Povo Palestina





“ É urgente que encontremos um caminho para a paz, não é preciso que palestinos e judeus se amem agora, por enquanto é suficiente se respeitem e se suportem”






Nos dias 24, 25, 26 3 27 de março último a ONU realizou, em Quito – Capital do Equador, uma reunião internacional para discutir a situação da Palestina. A reunião foi organizada pelo Comitê da ONU para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestino e reuniu embaixadores de vários países assim como Organizações Não Governamentais com status consultivo perante as Nações Unidas e outras que mesmo não tendo este status dedicam-se exclusivamente às questões palestinas.

Nosso coordenador nacional Rosalvo Salgueiro representou o SERPAJ-Brasil e nos fala da sua participação e faz uma avaliação do encontro. Rosalvo observou que os embaixadores das principais potências econômicas e militares do mundo  não compareceram à reunião, como os Estados Unidos, os países da União Europeia ou ainda a Rússia, a China, Índia, África do Sul e outros, segundo sua avaliação estas ausências dificultam os avanços na construção da Paz para região a partir deste fórum, entretanto reconheceu que os países presentes são exatamente os que têm feito a diferença e mantido vivo o assunto e que aos poucos vão criando as condições históricas para que medidas mais efetivas sejam tomadas e respeitadas pela comunidade internacional. “Se hoje a Palestina é reconhecida oficialmente pela ONU como um Estado (embora não membro pleno), é graças aos esforços e da articulação justamente dos países que estavam presentes na reunião” afirmou. 

A tônica das intervenções, tanto dos representantes da própria ONU como o Embaixador Adou Salam Diallo que preside o Comitê anfitrião ou o Embaixador Oscar Fernandez Taranco Secretário-Geral Adjunto para Assuntos Políticos do Departamento de Assuntos Políticos das Nações Unidas, que representou na reunião o Secretário Geral Ban Ki-moon, dos embaixadores apresentantes dos países, inclusive o Embaixador  Ryad Mansur representante da Palestina na ONU, dos peritos e também das Organizações Não Governamentais , foi no sentido de lamentar que o Estado de Israel se negue a cumprir as Resoluções da ONU, assim como continua a destruir as casas dos palestinos transferindo as pessoas para acampamentos de refugiados e reocupando os ligares com a construção de vilas que são chamadas de  acampamentos ou colônias judaicas. Promovendo assim a substituição completa da população palestina das comunidades locais.

O embaixador Adou Salam, ressaltou as conquistas do Comitê até a presente data e convidou a todos a se debruçarem com seriedade e solidariedade ao povo palestino, para nestes dias de reunião encontrar alternativas que possam levar a novos passos significativos para a construção da paz entre palestinos e israelitas. “O que se busca a o restabelecimento da Paz com base em dois Estados soberanos livres e independentes com as fronteiras anteriores a 1967 e com a Capital da Palestina em Jerusalém ocidental”. 

O Secretário-Geral Adjunto, embaixador Oscar Fernádez Taranco falou de contribuições concretas dos países, muitos deles presentes, em relações bilaterais com a Palestina, como exemplo citou o Brasil que estabeleceu oficialmente relações diplomáticas e mantém convênios de cooperação econômica e tecnológica com a Palestina, defendendo inclusive a sua admissão plena como Estado Membro da ONU.

O Embaixador Ryad Mansur que representa a Palestina na ONU fez um longo e comovente relato dos percalços que sofre seu povo e terminou dizendo que se não houver sanções econômicas e políticas efetivas contra Israel, este continuará com sua política de ocupação, substituição da população e de massacre das comunidades palestinas apropriando-se dos seus bens e recursos materiais e destruindo seu patrimônio histórico e cultural. Terminou dizendo que para Israel a ocupação é “Bom Negócio” e que só mudará de atitude se for obrigado pela comunidade internacional. Um boicote internacional a produtos e empresas de israelenses é uma das alternativas que a comunidade internacional pode adotar para vergar Israel para que ela cumpra as Resoluções das Nações Unidas.

Um a um os embaixadores falaram demonstrando com números e fatos o quanto seus países estão comprometidos em ajudar a Palestina e contribuir para que ambos os povos vivam e convivam em paz.

Os peritos também, em seus diagnósticos, foram unânimes em condenar a atitude de Israel e a demonstrar a violência, a imoralidade e a ilegalidade dos seus atos, ao mesmo tempo ensaiaram apresentação de propostas de ação que os presentes poderiam adotar para sair do campo da condenação moral e da lamentação pura e simples, passando a uma atitude proativa que vá além das articulações diplomáticas e que permita à comunidade internacional ter esperanças de que a paz na região será alcançada.

Entre os vários especialistas que assessoraram o encontro estavam três brasileiros: a professora de história árabe da USP  Arlene Elizabeth Clamesha, Pedro Ferraracio Charbel e Adriana Mabília. Também contribuíram com sus reflexões os peritos: Diego Arria dos Estados Unidos, Juan Raúl Ferreira e Leonel Groisman e Abder Rahim Jbara Husein do Uruguai,  Maia Guiskin do Chile, Omar Al-Kaddour e Mariela Volcovich da argentina.

O professor Edward (Edy) Kaufman, especialista em Gestão de Conflitos da Universidade Maryland apresentou um impressionante relato da situação atual em Israel  segundo sua visão. Ele falou das dificuldades para se alcançar a Paz entre palestinos e judeus, principalmente pelas posições e influências das comunidades de ambos os povos em diáspora. Falou da sua teoria do nacionalismo à distância (Nacionalism in here and nacionalism in there) que muitas vezes levam as pessoas a ficarem apegadas a eventos do passado e impedem que o diálogo e a busca do entendimento avancem. O professor Kaufman é o ideólogo do Consenso Pela Paz Palestino-Israelense, uma organização que já existe em muitos países da América Latina e em Israel. Na reunião de Quito estavam presentes os Consensos da Argentina, Uruguai e Chile, a Associação Americana de Juristas e outras

Associação Americana de Juristas
Associação Americana de Juristas
Falando pelo SERPAJ-Brasil, Rosalvo Salgueiro disse que toda iniciativa e colaboração na construção da Paz são importantes e que o SERPAJ reconhece que neste trabalho algumas organizações devem ter papeis protagônicos como é o caso das organizações como os Consensos Para a Paz entre Palestinos e Israelenses e Peace Now (Paz Agora) presentes na reunião. Que o SERPAJ é uma organização internacional de Defesa dos Direitos Humanos, e que em muitos país onde atua está muito envolvido em questões sociais e que portanto, é a partir da sua atuação específica que se solidariza e se envolve neste processo de construção da Paz.
Terminou dizendo que é preciso trabalhar pela Paz e aceitar ainda que provisoriamente a Paz possível, deixando a busca da Paz ideal para uma etapa seguinte. “ É urgente que encontremos um caminho para a paz, não é preciso que palestinos e judeus se amem agora, por enquanto é suficiente se respeitem e se suportem” se conseguirmos isso já teremos dado um grande passo.