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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Carta de Mandirituba: Festa das Sementes e Documento às Autoridades.




No dia de luta pela floresta, 21 de setembro. Animados pelo Tema: Sementes Nativas, Garantia de Futuro, Organizada pelo SERPAJ-Brasil, CPT, AOPA e ABAI,  O Sítio agroecológico da ABAI no Município de Mandirituba, Região Sul do Estado se transformou num Grande útero acolhendo camponeses, camponesas, lideranças de entidades, visitantes de 09 Municípios  e consumidores de produtos agroecológicos para celebrar  um dos maiores Patrimônios Natural que mundo tem, que é as Sementes Nativas/Crioulas
.Aproximadamente 1.100 pessoas passaram pelo Sítio Visitando a Exposição e participando da programação que contou com animação teatral, gesto de plantio de uma agro-floresta, Ouvindo os testemunhos de Guardiões das Sementes, como o Sr. Isaca Miola da Região Sudoeste do Paraná que protege no seu pequeno sítio de 02 alqueires, aproximadamente 300 variedades de sementes nativas/crioulas.
O Momento sublime da Festa, foi ás 15:00 horas com a Troca das Sementes. Quem levou trocou e quem não levou recebeu como doação assumindo o compromisso de multiplicá-las.
O Sindicato de São José do Triunfo presentificou  os participantes com a Semente do Milho Amarelão que é produzido na Região com o apoio do PAA. a AOPA Regional, uma das promotoras da Festa distribuiu sementes de hortaliças nativas para os camponeses e camponesas que participaram. Foi na verdade, um dia histórico para a ABAI que acolheu a ideia, contribuiu imensamente na construção da proposta e brilhantemente deu conta dos detalhes que fez a Festa se tornar significativa para Região. Uma experiência que é parte do desdobramento da Realização da 26ª Romaria em 2012. ( Confiram as Fotos em anexo)

Além dos camponeses e camponesas, Guardiões das Sementes, Estavam  na   Festa fortalecendo seu significado lideranças como: Pastor Werner Fucs, Darcy Frigo da Terra de Direitos, José Maria Tardin,  MST, Diretor  da Escola Latino Americana da Lapa, O animador e Cantor João Belo, Roberto Bágio - Coordenador do MST, 01 Diretor da Federação dos Trabalhadores Rurais e D. Tomás Balduíno, Conselheiro da CPT.

 Dom Tomás Balduíno lendo e proclamando a Carta de Mandirituba


CARTA DE MANDIRITUBA

Sementes Nativas,Garantia de Futuro

Excelentíssima Presidenta Dilma Rousseff
Excelentíssimos Governadores e Prefeitos
Ilustríssimos Representantes do Poder Legislativo

Reunidos em Mandirituba - Paraná no dia 21 de Setembro de 2013 para a Primeira Festa de Sementes Nativas/Crioulas da Região Metropolitana de Curitiba, nós agricultoras e agricultores familiares camponeses e organizações da sociedade civil lhes enviamos esta carta para expressar a nossa preocupação com a dramática perda de agrobiodiversidade no Brasil contemporâneo e a nossa indignação perante a indiferença e omissão de grande parte dos setores governamentais frente a este processo de destruição e morte.
Somos na grande maioria agricultores agroecológicos e orgânicos e inclusive fornecedores de alimentos orgânicos para os projetos governamentais (PAA, PNAE e outros). A contaminação das nossas próprias sementes, sementes crioulas, resultado de uma dedicação milenar dos povos que nos antecederam, por variedades transgênicas leva à perda da nossa certificação, sendo que a lei dos orgânicos não permite o cultivo de variedades transgênicas em sistemas orgânicos.
Pedimos aos governos municipais, estaduais e federal que tomem as medidas cabíveis, para garantir a nossa liberdade e soberania na escolha e na proteção do nosso próprio modelo de agricultura, sendo isso um direito assegurado pela constituição brasileira.
Pedimos que os governos estadual e federal invistam, através de suas empresas de pesquisa, no desenvolvimento da agroecologia, no melhoramento das variedades crioulas, e que não gastem mais dinheiro publico em pesquisas sobre organismos transgênicos e em desenvolvimento de novas variedades transgênicas.
Entendemos que cabe aos órgãos governamentais e às suas respectivas instituições que pesquisem a respeito das ameaças que esta tecnologia significa para a biodiversidade, para o ciclo da vida e em especial para o ser humano, mantendo-se independentes dos interesses econômicos das grandes corporações. Diversas pesquisas de órgãos internacionais indicam, que a tecnologia transgênica põe a saúde humana e o meio ambiente em risco, informações estas, que estão sendo escondidas pelos grupos e comissões ligadas aos interesses financeiros das empresas multinacionais e ao agronegócio.
Pedimos que o estado garanta a prevalência do princípio da precaução. Ele deve garantir informações adequadas sobre os riscos para a saúde humana e para outros danos que os transgênicos possam significar no futuro.
Pedimos que o estado interfira para que a CNTBio possa cumprir a sua verdadeira missão de cuidar da biossegurança. Aquela Comissão não pode ser composta por uma maioria que se preocupa mais com a eficácia das tecnologias do que com os riscos envolvidos em sua difusão. Onde estão os estudos científicos assegurando que a difusão dos organismos transgênicos não causa problemas para nossos biomas? Como o Governo pode permitir que a CTNBio baseie suas decisões em documentos preparados pelas empresas interessadas na expansão das vendas, negando atenção a documentos de base científica independente?
Pedimos que a sociedade seja informada com transparência sobre os resultados das reuniões da CTNBio, principalmente a respeito dos efeitos colaterais dos organismos geneticamente modificados e dos impactos socio-econômicos resultantes do plantio de lavouras transgênicas.
Exigimos que empresas agrícolas e agricultores garantam, através de barreiras e distâncias adequadas, a não-contaminação das plantas agroecológicas ou orgânicas de seus vizinhos, e que sejam responsabilizados, caso aconteça contaminação. Pedimos que o estado proíba imediatamente o plantio de plantas transgênicas de polinização aberta.
Pedimos que o estado promova campanhas de conscientização, que mostram os perigos, as dúvidas e sobretudo a dependência que a difusão da tecnologia transgênica provoca.
Exigimos que o tamanho do símbolo de alerta na rotulagem dos alimentos que contêm transgênicos seja aumentado significativamente, pois muitos consumidores consomem alimentos transgênicos sem estarem cientes disso. Da mesma forma agricultores plantam milho transgênico sem terem conhecimento disso.
Temos certeza de que os governos, junto com as organizações da sociedade civil, estão dispostos a cumprir a sua nobre missão, fazendo o que centenas de gerações têm feito antes de nós: de preservar a biodiversidade e em especial de manter as sementes, base de nossa alimentação saudável e segurança alimentar, puras para as futuras gerações.
Desejamos que os detentores de poder político não se deixem dominar pelo poder das corporações e tomem as decisões necessárias para assegurar o direito das futuras gerações a usufruir da biodiversidade e das sementes, herdadas das gerações que nos antecederam.

Organizações: AOPA – Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia, Fundação Vida para todos – ABAI, CPT/PR– Comissão Pastoral da Terra do Paraná e Dom Tomás Balduino, Conselheiro permanente da CPT,  Rede ECOVIDA, Terra de Direitos, SERPAJ - Serviço de Paz e Justiça do Brasil, MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra , Cooperbiobrasil – Cooperativa Solidária Mista de Produção Agroecológica e Equipamentos Ambientais, Casa do Trabalhador e CEPAT, CEFÚRIA – Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo
150 famílias de Agricultores e Agricultoras familiares de 19 municípios da região metropolitana de Curitiba  
Mandirituba, Paraná, 21 de setembro de 2013.

Informação: Juvenal Rocha - CPT PR